terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Victoria




Não tenho na ponta da língua o vocabulário
avulso da insubmissão ou da revolta,
mas queria dispor de palavras certeiras
para exprimir o meu protesto:
considero absurdo que me venham falar
de amor e desdenhem dos sonhos (tantos)
com que me assombro.

Não quero para mim aquela história
igual a tantas outras: "casaram
e foram felizes para sempre".

São vozes que desabam sobre a agudeza
do recato e desfazem o casulo da puríssima
seda que ao instinto pertence.

Um eco de sinais antigos como salmos
envolve meus lábios, tão trementes agora.

Graça Pires
In:Fui quase todas
as mulheres de Modigliani (clic)
Pag.44


Figura austera a Victoria. Mas, faria minhas as suas palavras. Os contos de fadas e da carochinha já não pegam. Numa relação há altos e baixos o sempre é muito relativo.




Graça Pires (1946) Poetisa portuguesa.É licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Editou o seu primeiro livro em 1990, depois de ter recebido o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o livro Poemas. Ler mais aqui


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Quinzena do Amor
Post 20 - Carta (Esboço), Post 19 - Morena, Post 18 - Diz o meu nome, Post 17 - Canção do africano, Post 16 - Os cinco sentidosPost 15 - Amor a amor nos convidaPost 14 - E Serei VeleiroPost 13 - Poema de Amor de António e CleópatraPost 12 - Que era é esta?Post 11  - A noite abre meus olhosPost 10 - sim.foi por um beijo em simples vendaval que morriPost 9 - Ó MãePost 8 - Alma minha gentil que te partistePost 7 - Do inquieto oceano da multidão,Post 6 - Amar teus olhosPosta 5 - Conheço esse sentimentoPost 4 - Éramos tu e euPost 3 - Saudades não as queroPost 2 -Não é por acasoPost 1 - É daqui a pouco 
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1ª Imagem: Pintura de Modigliani - Victoria 1916
2ª Imagem: Graça Pires - aqui

4 comentários:

  1. Obrigada, minha Amiga pela divulgação e pelo carinho.
    As imagens são todas do pintor Modigliani. Eu é que inventei para cada uma delas um enredo e deixei-as falar. Claro que fiz alguma pesquisa. A Jeanne foi a mulher dele e no último poema do livro tento descrever a forma violenta como ela se atirou da varanda no dia seguinte à morte do pintor. Não foi fácil pôr as mulheres a falar, mas cada uma diz o que o coração lhe (me) pediu. Bem-haja por me incluir nesta quinzena do Amor. Ainda pensei enviar-lhe um poema...
    Se quiser ofereço-lhe os meus "Poemas escolhidos"....
    Um beijo.

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    Respostas
    1. Olá, Graça

      Conseguiu uma coisa extraordinária porque criou vida para cada uma delas e tudo faz sentido. Eu é que agradeço a sua sensibilidade e talento. Muito obrigada pelas suas palavras. Fiquei sensibilizada com a sua generosidade. Mas, terei muito gosto em adquirir os seus "Poemas escolhidos" e sei que vou adorar lê-los. :)

      Muito e muito obrigada.

      Beijinhos

      Olinda

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  2. Gostei de ler.
    E gostei de reler depois de ter lido o comentário da poetisa.
    Um abraço

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  3. um livro e um poema muito belos.
    feliz por saber a minha amiga Graça, que muito admiro, representada nesta excelente selecção de poemas

    abraço

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