sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Escrevo meu livro à beira-mágoa





Terceiro

Escrevo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?

In: Mensagem

    (1888-1935)

Este poema é o terceiro passo da II Parte (Os Avisos), de Mensagem, livro 
composto por 44 poemas, editada um ano antes da sua morte. 
É uma obra que exalta os feitos dos portugueses, seguindo a linha camoniana,
e cultiva a esperança na recuperação do seu antigo prestígio.

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Poema retirado: daqui
Imagem: Pixabay

2 comentários:

  1. Conheço o Poema. Tenho o livro. Uma boa lembrança. No passado dia 30 fez 82 anos que nos deixou. E não ouvi uma referência ao facto. Assim trata Portugal os seus génios.
    Abraço e bom fim de semana

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  2. A verdade, no sentir de Pessoa, trás de novo o "Encoberto" do sentimento Lusitano. A esperança no futuro desconhecido e certo.


    Beijo
    SOL

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