domingo, 5 de novembro de 2017

Da morabeza



A conquista da poesia     

Era um castelo erguido na montanha
da paisagem deserta submarina
tinha muros altamente inacessíveis
ao salto imaginário do meu pensamento

Minha musa você diga-me
onde mora a poesia
quero ir deitar-me com ela
quero amá-la toda a noite

Fiquei parado à porta do castelo
os muros tolhiam meus passos
mas de dentro vinhas gritos de alegria
de meninos correndo numa cerca

Minha musa você conte-me
a história da bela adormecida
que quando eu era menino
Manhanha gostava de me contar

No alto do castelo tinha um vulto
tinha uma mulher vestida de vermelho
lembrando-me todas as princesas encantadas
dos sonhos inocentes de minha infância

 (1925-2015)

Arnaldo Carlos de Vasconcelos França nasceu na cidade da Praia, Cabo Verde, em 1925. Graduado em Ciências Sociais e Políticas pela Universidade Técnica de Lisboa, diz-nos António Miranda no seu site, donde trouxe este poema.


Ao jornal "A Semana" fui buscar estes elementos:

"Ensaísta de craveira, Arnaldo França escreveu numerosos ensaios literários dos quais se destacam os dedicados à obra de António Aurélio Gonçalves, Guilherme Dantas e Jorge Barbosa. Como poeta, também participou, ainda enquanto estudante do Liceu Gil Eanes, na revista Certeza, e mais tarde, graduou-se em Ciências e Políticas pela Universidade Técnica de Lisboa. Foi um exímio crítico e estudioso da literatura cabo-verdiana", escreve a página do Governo.
"França destaca-se, igualmente pelo seu enorme contributo para a valorização da língua cabo-verdiana, tendo ao longo da sua vida, traduzido para o “crioulo” alguns imortais da literatura de língua portuguesa como Camões e Fernando Pessoa. Da sua obra fazem parte ainda várias colaborações com nomes como Félix Monteiro António Carreira, Jaime Figueiredo, ainda às vésperas da Independência, quando integrou o Centro de Estudos de Cabo Verde. Animou a Revista Raízes, um marco fundamental no pós-independência".

Muito mais há para saber sobre este grande Senhor. 
Quanto a mim, para além de ter ficado presa na riqueza dos seus poemas fiquei embasbacada com as traduções para o crioulo de poemas de David Mourão-Ferreira, de Fernando Pessoa, ortónimo, e de três dos seus heterónimos mais conhecidos, aqui, na Esquina do Tempo. Qualquer coisa de sublime.
Em sua honra foi criado pelas imprensas nacionais de Portugal e de Cabo Verde o Prémio literário Arnaldo França, que irá distinguir, anualmente, escritores cabo-verdianos. O prémio foi anunciado no Festival literário Morabeza que decorre desde 30 de Outubro e terá o seu término hoje, dia 5 de Novembro.
É a primeira edição desse Festival literário que promete vir a transformar-se num grande festival lusófono. 

Desejo-vos um bom domingo.

Abraço.

6 comentários:

  1. Maravilhosa postagem
    e mais maravilhosa ainda
    essa poesia!
    Grata por compartilhar.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  2. Que belíssimo «post»!
    A minha vida não me permite acompanhar de perto tantas coisas que gostaria...e amo! Cabo Verde e a sua Literatura é uma delas.

    Beijinho

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  3. Mais um poeta de Cabo Verde que não conheço. Deve ser interessante o Festival Literário Morabeza...
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  4. Boa Vista
    incomensurável nas minhas memórias

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  5. poema de um lirismo encantador. delicado e terno.
    anotei o nome do poeta, que não conheço

    gostei muito

    abraço

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  6. Uma leitura agradabilíssima...
    O Festival literário Morabeza encheu-me de contentamento...
    Quero lá ir...
    Grande abraço.
    ~~~~~~~~

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