sábado, 7 de novembro de 2015

E agora, José?

Melhor poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade
JOSÉ

E agora, José?
          A festa acabou,
          a luz apagou,
          o povo sumiu,
          a noite esfriou,
          e agora, José?
          e agora, você?
          você que é sem nome,
          que zomba dos outros,
          você que faz versos,
          que ama, protesta?
          e agora, José?
          Está sem mulher,
          está sem discurso,
          está sem carinho,
          já não pode beber,
          já não pode fumar,
          cuspir já não pode,
          a noite esfriou,
          o dia não veio,
          o bonde não veio,
          o riso não veio
          não veio a utopia
          e tudo acabou
          e tudo fugiu
          e tudo mofou,
          e agora, José?

          E agora, José?
          Sua doce palavra,
          seu instante de febre,
          sua gula e jejum,
          sua biblioteca,
          sua lavra de ouro,
          seu terno de vidro,
          sua incoerência,
          seu ódio - e agora?
          Com a chave na mão
          quer abrir a porta,
          não existe porta;
          quer morrer no mar,
          mas o mar secou;
          quer ir para Minas,
          Minas não há mais.
          José, e agora?

          Se você gritasse,
          se você gemesse,
          se você tocasse
          a valsa vienense,
          se você dormisse,
          se você cansasse,
          se você morresse...
          Mas você não morre,
          você é duro, José!
          Sozinho no escuro
          qual bicho-do-mato,
          sem teogonia,
          sem parede nua
          para se encostar,
          sem cavalo preto
          que fuja a galope,
          você marcha, José!
          José, para onde?


Carlos Drummond de Andrade: Foi um poeta mineiro, nascido em Itabira em 31 de outubro de 1902. Faleceu aos 84 anos em 1987.  É considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira e construiu extensa obra ao longo dos anos de vida. Ficou conhecido pela sua pacata vida de funcionário público, que se colocou em contraste com o poder de sua poesia. Drummond está ao lado dos modernistas, que reivindicaram na poesia os versos livres, sem metro fixo definido e com temática cotidiana. Sua poesia circula entre os temas sociais, existenciais e metafísicos, marcados por uma fina ironia. Quem nunca escutou o verso “E agora José?”.

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Daqui 

22 comentários:

  1. Um dos meus poetas preferidos, a par de Vinicius, daqueles que conheço no Brasil.
    Gosto muito deste poema, aliás nunca li nenhum de Drummond de Andrade que não me dissesse nada.
    Um abraço e bom fim de semana



    Estoril-Praia -- Académica, 1-1.

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  2. Um dos maiores!
    Grande o poeta mineiro...gosto de ouvir este poema na voz de Drummond (youtube).
    Beijinho e bom fim-de-semana

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  3. ~~~
    ~~ Um excelente poeta, com um admirável sentido de humor...

    Este e outros poemas do autor, aparentemente muito simples,

    fazem lembrar-me seus poemas eróticos. Não consigo evitar!


    ~~~ Ótimo fim de semana. Beijinhos. ~~~~~~~
    ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

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  4. Uma das primeiras poesias que decorei na escola.
    Sempre atual... e agora José?!...

    Bom fim de semana com tudo de bom!!!
    Beijinhos.
    ✿˚° ·.

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  5. Não consigo imaginar, Olinda, mas com certeza descobriremos o motivo de termos aqui no xaile o famoso Voltaire. Por enquanto ficamos com este belo poema de Carlos Drummond de Andrade de quem gosto muito Não conhecia, mas gostei muito e. como deves imaginar tenho feito essa pergunta muitas vezes: E agora, Emilia? Tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo e eu aqui do outro lado do Atlantico sem o apoio do meu marido e filhos. Mas...ainda bem que vim, pois além de ajudar o meu irmão sei que a minha presença está a ser muito importante para os meus dois velhinhos queridos. O meu marido antecipou a vinda e dia 13 estará cá Nas férias de Natal chegarão os meus filhos e netos. Vai ser muito bom!. Tenho esperança de que a minha mãe se fortaleça e aguente até lá. Beijinhos, querida amiga e muito obrigada por este belo momento. Fico aguardando Voltaire. Bom fim de semana
    Emília

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  6. O grande poeta da terra do amigo Toninho Bira, cidade vizinha da minha
    Um dos poemas mais recitados do grande poeta
    E eu adoro estes versos
    Vários poemas do Drummond foras musicados. Este faz parte da coletânea
    Belíssima escolha Olinda
    Um grande beijo querida e um feliz domingo

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  7. Esta é maravilhosa, bjbj Lusette.

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  8. Great post! Would you like to follow each other to keep in touch? let me know !☺

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  9. Grato abraço por me ter dado a oportunidade de relembrar esta preciosidade de um poeta que muito admiro.

    Bom resto de domingo, querida Olinda

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  10. Que bom ver Carlos Drummond de Andrade no Xaile. Este espaço tão especial valoriza a obra deste notável poeta brasileiro. Parabéns, Olinda, pela escolha e por tua gentileza.

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  11. O meu primeiro contacto com Drummond deu-se com umas crónicas publicadas, há já muitos anos, no semanário regional Jornal do Fundão. Era inovador, pois em Portugal mais ninguém publicava isso.
    O poema é, realmente, de uma grande ironia, evidenciando um enorme talento.
    Esteve muito bem em publicá-lo, Olinda.

    Uma boa semana :)

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  12. Agora? Amanhã.

    Lá estarei em mais uma récita de finalistas

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  13. Há algum tempo que não lia Drummond. É um Poema rico. Uma preciosidade de observação.
    Obrigado, Olinda, por o referenciares aqui.


    Beijo
    SOL

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  14. Bela poesia!!!!!!!!!! Lindo dia!!!!!!!!!!!! Beijos

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  15. Magnifica escolha, lindo poema.
    Beijinhos
    Maria

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  16. Bonito poema.

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  17. Abençoado dia!!!!!!!!!!!!! Beijos

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  18. E agora? Perguntamo-nos tantas vezes, Olinda!
    Agora, juntar tudo e...começar de novo.
    Um poema que nos "pica", nos faz acordar
    Beijinho!

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  19. "A AMIZADE VERDADEIRA SORRI NA ALEGRIA,
    CONSOLA NA TRISTEZA,
    ALIVIA NA DOR E
    SE ETERNIZA EM DEUS"(J.Calvet)
    AMO DRUMMOND!!!!!!!!!
    UM GRANDE ABRAÇO, MARIE.

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  20. hehehehehehe......Não conhecia...Mas vou
    guardar, pois sou José...,mas não tem nada a ver.
    Beijo

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  21. Sua escrita é encantadora. Grande Drummond! Esses versos, li na escola, há muito tempo (rss), e me encantei. Adorei vê-los aqui. Bjs.

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