quarta-feira, 28 de maio de 2014

Quase Memórias: Esta é a minha Verdade!

Hoje mais do que nunca o trabalho do historiador se mostra exigente. Com a sua capacidade de lançar olhares de conjunto, privilegiando o todo para o decompor em partes, é nessa tarefa que se deverá concentrar. Qualquer que seja o género de História que pretenda desenvolver, regional ou geral, é sua obrigação deixar portas abertas, pistas que outros possam seguir no sentido de se tentar compreender e completar ciclos que parecem isolados mas que na realidade se interpenetram.

Isto para dizer que todos os dados, todas as memórias, todos os documentos são imprescindíveis como material de análise histórica. Esta obra de António de Almeida Santos, Quase Memórias, é um instrumento importante, aliado a tantos outros, para se compreender uma época que continua a causar-nos perplexidade.

Trata-se de um trabalho minucioso baseado na documentação produzida em todo o processo de independência das ex-colónias, conversações, tratados e também na sua visão pessoal, introduzindo a sua própria interpretação, as suas vivências e experiências.

    

"Longa como as estradas da Galileia foi esta digressão pelo estertor do colonialismo e pelo dossier da descolonização. A partir de agora, este livro deixa de ser meu. Não faço a menor ideia de como possa ser acolhido pela opinião pública portuguesa. Talvez agrade a alguns. Desagradará necessariamente a muitos, tão amargas são algumas das recordações que evoca. Mas, quem se põe a remexer na história, não pode satisfazer-se só com uma parte dela. Não pode deixar de tentar ser exaustivo, objectivo e verdadeiro. Esta é a minha verdade sobre o estertor do colonialismo e sobre o dossier da descolonização; sobre os mais salientes acidentes do processo revolucionário posterior a Abril que lhe determinaram o tempo, o modo e o resultado final. Deixo ligados a tudo isso inolvidáveis momentos da minha vida. Nem todos agradáveis. Apesar disso, foi reconfortante recordá-los."



Esta é a mensagem impressa na contra-capa da referida obra, composta de dois volumes, editada em Setembro de 2006. Normalmente, escrevo a lápis a data em que adquiro os livros e neste consta 2006/10/27, o que demonstra o meu interesse por esta matéria. É um livro que não se consegue ler de uma assentada. É para ser lido com tempo e, assim sendo, levei o meu tempo a fazê-lo. O 1º Volume traz o subtítulo: Do Colonialismo e da Descolonização. E o 2º : Da Descolonização de cada Território em Particular.

Estamos, de novo, a atravessar tempos que exigem de nós reflexão e grande sentido de responsabilidade. Isso, tanto no que diz respeito aos problemas nacionais como em relação a Europa, espaço onde nos encontramos inseridos. E, não há dúvida, esta Europa necessita urgentemente de ser repensada, regressando ao momento em que foi idealizada e reavaliando os seus objectivos.

Quanto ao panorama nacional, passa-se uma situação bastante interessante. No que se refere às eleições europeias de há três dias, os resultados por cá, no chão nacional, estão completamente obliterados. Já não se sabe bem quem as ganhou e quem as perdeu... Já não se sabe se houve uma vitória histórica... ou uma derrota histórica. E na liça temos mais um lidador. Que os mais altos interesses da pátria se alevantem.   


Nota: Por motivos vários, só hoje me foi possível fazer este post referente a esta obra de Almeida Santos, prometido há já um mêsAs duas imagens são do 1º e 2º volumes.    


11 comentários:

  1. Havia tanta coisa a dizer sobre descolonização...Cada um tem a sua verdade e a verdade está nelas todas!

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  2. Uma figura controversa , Almeida Santos.

    Beijinhos, querida Olinda

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  3. Não conheço a obra, apesar de me interessar também por História.
    Obrigada pela divulgação.
    Tenho que a procurar, pois a temática é de grande interesse. Parece haver ainda um tabu que impede um olhar sobre os acontecimentos do nosso passado recente.

    Beijinho

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  4. Sobre a descolonização diria que podia ter sido feita de outra maneira mas tinha que ter começado antes do 25 de Abril, depois desta data tudo se precipitou e era de todo impossível ao colonizador negociar de outra forma porque se levantaram interesses de outros países e Portugal não tinha capacidade de argumentação, até porque militarmente ficamos rapidamente inferiorizados.
    Quanto às últimas eleições retenho as palavras de um deputado da CDU " quem ganhou, chora a vitória, quem perdeu canta a derrota...vergonha é o que eu sinto e lamento a sede de poder que algumas pessoas têm.

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  5. Um livro a ler. A história irá mostrar os heróis e os vilãos desta saga que é a recente democracia portuguesa.

    Beijos

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  6. Querida amiga
    Vou viajar. Estarei ausente por dois meses, no mínimo.
    Sempre que tiver oportunidade irei ao meu blog e farei visitas tanto quanto for possível.
    Tenho no «DEUSA» um post de despedida.
    Tenho que usar este esquema de “copy & paste” porque não tenho tempo para me despedir de cada pessoa individualmente.
    Deixo um beijo amigo e um “até sempre”.
    Miguel

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  7. Ainda não foi feita a História da descolonização.
    Principalmente de Angola e Moçambique.
    Leva tempo e é preciso ainda mais suor que o de Almeida Santos.
    Acerca das eleições, na minha opinião só há 1 vencedor: o Marinho Pinto.
    Os outros, perderam todos.
    E que venha o Costa, porque o Seguro nem os socialistas convence.
    Um beijo, querida amiga Olinda.

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  8. Na verdade, uma figura controversa com responsabilidades da actual situação política ou económica que o nosso país se encontra....
    Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre
    ~Eduardo Galeano

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  9. Ainda que não se concorde com tudo que narra um escritor, sempre val a pena conhecer os prismas abordados. Trata-se de alguém que observou acontecimentos ao longo do tempo e que os analisa e recorda com caráter pessoal. Bjs.

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  10. Muito interessante! Uma obra que vou comprar, também para ler com tempo :)
    Beijinhos

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